terça-feira, 2 de março de 2010

..dos primeiros dias de um novo ano

“Dedé: bebê da zona rural. Já anda. Apóia-se na ombreira da porta passando, com muita precaução, da sala para o vestíbulo. Uma vez conseguido isto, ele vai ficar de quatro para descer engatinhando os três degraus de pedra que levam ao pátio. Conseguiu! Encontra-se frente a frente com um gato: eles se olham, depois cada um segue o seu caminho. Esta é a primeira meia hora de seu dia que contará com dezesseis. Ninguém para lembrar que ele é apenas uma criança: ele sabe por si mesmo coisas que não estão ainda ao seu alcance. Ninguém para preveni-lo de que um gato pode arranhar, e que não pode descer a escada sozinho. Ninguém para intervir em suas relações com as crianças mais velhas. Então o que pode acontecer é que se machuque: um arranhão, uma cicatriz. Mas não quero dizer com isto que você precisa substituir a super proteção por uma total ausência de certa proteção. Apenas explico que, no campo, uma criança de um ano já vive, enquanto que entre nós um rapaz de dezoito anos apenas se prepara para viver. Quanto tempo lhe será necessário para realmente começar a vida?” Janusz Korczak

Essa citação está no ultimo post do mamíferas. Me chamou atenção porque exemplifica um pouco do que repeti algumas vezes desde meu aniversário no ultimo domingo. Não quero ser pretenciosa, mas da afirmação, "Apenas explico que, no campo, uma criança de um ano já vive, enquanto que entre nós um rapaz de dezoito anos apenas se prepara para viver." , eu me encontro mais próxima do bebe do campo, que do jovem da zona urbana.

Meus pais são separados desde que eu tinha 2 anos, fui criada pela minha avó materna e visitava-os ou recebia-os de visita nas férias (como faço até hoje). Quando comecei a estudar, ainda ia fazer 3 anos, minha avó saia muito cedo pra trabalhar e ficava para os meus tios a responsabilidade de me arrumar pra escola.. imagine a bagunça.. dar banhos, pentear meus cabelos que por muito tempo foram bem longos,arrumar a lancheira, coisas que quase nunca ficavam como eu queria (lembro eu já queria algo) fui então aprendendo a pentear meus cabelos sozinha e as outras cositas mais, e com seis anos já ia sozinha pra escolinha que ficava aqui no bairro mesmo.

Com 14 decidi ir morar em Niterói, com minha irmã mais velha e mais próximo da minha mãe. Mas não foi bem esse o motivo, além da minha vontade de mudança da pré-adolescencia, tinha a oportunidade de estudar num dos melhores colégios da cidade com bolsa integral. Na época, fui considerada uma rebelde (novidade) e ingrata. Estava abandonando minha avó, que agora tinha apenas mais um filho solteiro dentro de casa. Mas pensei em mim, no que eu queria, e na oportunidade que me era dada. Fui em frente, e graças a essa rebeldia hoje estou no 6º/7º período de Rádio e TV numa Universidade Estadual, sou militante e isso tem um significado importante pra mim (comecei como secundarista), conheço vários estados do país, e tenho amizades que não troco por nada nesse mundo.

Aos 20 anos, engravidei, de uma pessoa que não nasceu pra ter filhos, não por nada, mas que ao meu ver, escolheu pra sua vida ser livre, viver sem responsabilidades tão sérias e gostosas como essa da paternidade. Engravidei, antes, muito antes do que queria, do que sempre quiz, não da maneira que queria e que sempre quiz. Dentre as minhas escolhas, decidi abortar as minhas vontades de antes, abortar a vontade de outros, conceber meu filho, e encarar o que isso representaria e representa pra mim.

Ao completar 21 anos, não só uma, mas algumas pessoas me perguntaram sobre aquele momento que quase todo mundo tem no seu dia, "Relembrar o passando e pensar no futuro!". Minha resposta? Acho que minha vida me pede pra fazer isso todos os dias, desde sempre! Na irracionalidade da paixão, na racionalidade da razão, a todo tempo sou incentivada a encarar a realidade de frente, e assumir as responsabilidades que isso significa, mesmo que seja ter mais uma ou duas disciplinas reprovadas no histórico da faculdade, por considerar o professor um merda (que vai me dar aula esse semestre de novo) ou por escolher a LUTA por uma sociedade mais justa pra mim (porque vê-lo viver bem vais me fazer bem também).
Aprendi a encarar a realidade de frente, e pensar nas possibilidades dessa realidade, e se me der preguiça, tirar um cochilo ou dar uma namorada porque também sou gente.

Contudo, vou lembrando do Passado, que me mostra como sou forte, como posso fazer muito mais e melhor do que já fiz, e que me dá coragem pra pensar no FUTURO que posso ter, com os amigos, com um grande amor e agora, com essa pessoinha que esta por vir, e que apesar de fazer parte do presente também é mais uma ponte pra um FUTURO, feliz e bem vivido.
O que para os fracos é só uma fantasia, um faz de conta, um sonho mimado de toda mulher, pra mim, é resposta racional do mundo as escolhas racionais que faço, e que com coragem e força vou viver Feliz!

Êaaa !