quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Conferências: 2008 X 2009.

Karen Oliveira, aos companheiros do interior 18.11.2009

"A Bahia realizou neste último final de semana (14 e 15) a etapa estadual da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom)."
Alguém ai percebeu que é a PRIMEIRA? "... 1ª Conferência Nacional de Comunicação)".
No processo de construção da etapa Estadual da I Confecom, diferente da I Conferencia Baiana de Comunicação realizada em 2008, nem tudo foram flores, borboletas e céu azul. Aliás, nada foi.
Desde o princípio enfrentamos o boicote do setor empresarial as reuniões da C.O., o que engessava o processo e impedia decisões. A má vontade do governo que a todo tempo afirmava que não teria dinheiro suficiente para organizar a conferência e muito menos para ajudar a mobilização do interior. E por fim a falta de compromisso do Ministro das Comunicações em publicar os decretos e documentos necessários para legitimar as ações locais e estaduais para construção da CONFECOM.
E porque toda essa má vontade? Resumiria dizendo que a Comunicação, chamada por alguns de quarto poder, "na história deste país" é o PRIMEIRO Poder.
Um poder concentrado na mão de poucos, servindo a interesse de poucos, e que seus profissionais são vistos pelos espectadores como heróis e pelos patrões como escravos, tendo que se submeter a cumprir várias tarefas e receber por uma só, além de vender sua potencialidade no discurso pra linhas editoriais dominantes (e os empresários ainda querem falar de liberdade de expressão).
Um poder opressor, que criminaliza o pobre e diz que ele se encontra naquela posição porque quer, que diz que todo vagabundo é maconheiro, ou "melhor", que todo maconheiro é vagabundo, que diz ao trabalhador pra comprar uma bicicleta ou voltar andando pra casa pra economizar com transporte, e ao pequeno burguês pra comprar seu carro porque o transporte público vai continuar aumentando e oferencendo um serviço sem qualidade, e por ai vai.
Em 2008 a Bahia sai na frente, com apoio financeiro, mobilizações territoriais, tirada de delegados, fazendo caderno de resoluções e tudo mais, mostrando que é um Estado preocupado com a democratização da comunicação. Que o diga as campanhas publicitárias do governo e as diversas (sim estou sendo irônica) empresas responsáveis por ela.
Em 2009 a Bahia sai, a muito custo, diga-se de passagem, com ligações as vésperas para confirmar transporte pro interior, com nenhuma certeza de onde nos alojaríamos e principalmente, com nenhuma das resoluções de 2008 fora do papel.

Mais que clara a diferença entre Campanha e real interesse do governo de "Todos os nós".

Tirados os delegados, Brasília se aproximando e nós comunicólogos já descobrimos onde nos inserimos neste processo? Onde se encontra a parte SOCIAL da nossa comunicação?

Não fique esperando pela conferência para fazer a sua parte, ou não venha me falar de ética e DIPLOMAS !

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Fascismo banal


A expulsão de Geisy me parece pura covardia da direção da Uniban: vamos nos livrar de um problema com o qual não sabemos lidar


Por Maria Rita Kehl

“A massa não é confiável” escreveu Freud em Psicologia de massas e análise do eu (1920). Os indivíduos que participam de uma formação coletiva sob o comando do representante de algum ideal comum são capazes de atos que, se estivessem sozinhos, não se atreveriam a cometer. O superego individual tira uma folga em favor do superego coletivo. Em nome dele, o sujeito dissolvido na massa se precipita em atos extremos que jamais – ou sempre? – sonhara praticar.

Por que os meninos e meninas escandalizados – ou excitados – com o mini rosa shocking da colega a chamaram de “puta”? Usar a palavra puta como insulto revela o ressentimento do homem diante do desejo sexual da mulher, quando esse desejo não é voltado para ele. Uma prostituta não é simplesmente uma mulher que transa com muitos homens, nem uma mulher exageradamente sensual. É uma mulher que faz disso seu ganha pão. A mulher que faz sexo porque gosta, sem cobrar, não é prostituta. A prostituta é profissional – gostando ou não do que faz, algumas por necessidade, outras por amor à arte, mas sempre profissionalmente.
Mas a profissão da prostituta sempre foi desqualificada nas sociedades em que o tabu da virgindade vigorava para as mulheres de "boas famílias". Assim, a palavra "puta" é usada até hoje para desqualificar uma mulher sexualmente livre – coisa que não sei se a Geisy é ou não, nem vem ao caso. Ela pode ser só uma moça que se acha gostosa e gosta de se exibir.

Já a Uniban, esta errou do começo ao fim. Primeiro: se a roupa da moça era inadequada, por que ela não foi barrada na porta? Segundo, parece que o próprio esquema de segurança da Universidade demorou a ser acionado quando a confusão começou. Terceiro – não me lembro de haver menção à presença de alguém da diretoria a fim de se responsabilizar pela ação dos próprios seguranças, quando o tumulto engrossou. Quarto: houve alguma orientação da direção, depois do incidente, para se discutir o assunto em classe com os alunos? Ou, antes disso: houve alguma medida punitiva, alguma suspensão de aulas, ou rebaixamento de nota para os que pretendiam linchar e estuprar a moça? Alguma sindicância para detectar os líderes fascistas da massa? Se essas manifestações de massa enlouquecidas não são barradas e punidas, as pessoas entendem que estão autorizadas e a barbárie tende a se repetir. A expulsão de Geisy, por outro lado, me parece pura covardia da direção da Uniban: vamos nos livrar de um problema com o qual não sabemos lidar. Me parece que a universidade nesse caso se comportou segundo as normas da empresa lucrativa que ela realmente é: procurou satisfazer o grande número dos clientes-pagantes em detrimento de uma cliente-problema. O freguês, para o comerciante, tem sempre razão. Só que a universidade, ao se comportar como um comércio, se desmoraliza como instituição de ensino e educação. Daí que nada garante que tais incidentes não se repitam, tanto por parte de alguma outra aluna que acha que pode se vestir como quiser quanto do lado dos alunos e alunas que acham que, ao se sentir provocados, podem se comportar como um bando de foras-da-lei.

Outro problema a ser abordado é o do excesso de erotização do corpo jovem (sejam homens ou mulheres), uma característica da sociedade atual em que as pessoas circulam como mercadorias exibidas na vitrine. Quando Geisy se defende dizendo "eu me visto como quero e como me sinto bem", ela nem se dá conta de que está tentando corresponder ao padrão de hipersensualidade que vê na publicidade, nas novelas, nos filmes comerciais etc. Mas, até aí, se ela gosta, tudo bem. No entanto, o fato de ela ter sido a vítima no episódio bárbaro da Uniban não nos poupa de também criticar a falta de noção da moça. Existem convenções de comportamento, aparência etc. que não são exatamente morais, mas ajudam a clarear o que se espera das pessoas em determinados ambientes. Ninguém vai a uma recepção de gala usando bermuda e camiseta a não ser que queira escandalizar, certo? Ninguém vai à faculdade de biquini porque chamaria tanta atenção que dificultaria o andamento das aulas. Será que os rapazes ficam sem camiseta na classe nos dias de calor, por exemplo? Se a Geisy tinha uma festa mais tarde poderia ter levado o vestido na bolsa e trocado depois das aulas, mas, pelo depoimento dela, me parece que a moça não tem a menor noção da diferença entre, por exemplo, a faculdade e a balada. Não sei se ela utilizaria o argumento "faço o que quero/uso o que gosto", se em seu emprego o patrão exigisse um uniforme. Ou ainda, se a exigência de adequação correspondesse a uma distinção de classe. Aposto que Geisy não iria a um casamento chic com uma roupa inadequada: ficaria super preocupada em saber o que se "deve" vestir na ocasião.

Só que a Universidade – a Escola, em geral – é uma instituição muito desmoralizada atualmente e ela se achou no direito de quebrar a convenção de um certo decoro no ambiente de estudo. É grave? Não. Merecia o que aconteceu? Absolutamente. Só quero dizer que ela me pareceu, em sua posição isolada, tão tonta e tão alienada quanto a turba que não soube dar uma expressão civilizada ao seu descontentamento. Isto, do ponto de vista da alienação. Do ponto de vista da gravidade do comportamento, nem se compara: a turba foi fascista e teria cometido um crime talvez bárbaro, se os tais seguranças não tivessem finalmente decidido agir. A Geisy não fez nada disso, foi só meio sem noção.

De uma forma ou de outra, é sempre do velho superego que se trata. A moral tradicional explodiu na Uniban com a fúria do retorno do recalcado, aliada ao que? Ao velho comando a favor do gozo, do qual os jovens hoje vivem perigosamente perto demais. A condenação de “puta, vagabunda”, alia-se ao desejo de “lincha, estupra”. São duas faces da mesma moeda, “goza/não goza”, Kant e Sade de mãos dadas, tornados ambos mais cruéis na proporção direta do desprestígio do pensamento na sociedade atual. A conclusão ficaria por conta de Hannah Arendt: quando o pensamento torna-se supérfluo, abre-se o caminho para a banalidade do mal. (originalmente publicado no jornal Brasil de Fato)

Maria Rita Kehl, psicanalista e ensaísta, é autora, entre outros, de O tempo e o cão (Boitempo, 2009) e Deslocamentos do feminino (Imago, 2007)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Estudantes de direito da Ufes vão boicotar Enade

22/10/2009 - 13h20 (Guido Nunes - gazeta online)

Os alunos do curso de Direito da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) vão boicotar o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que acontece no dia 8 de novembro deste ano. Essa será a primeira vez em 12 anos que o curso realizará o boicote ao exame. Nos últimos anos, o curso de Direito sempre havia recebido a nota máxima.

Os estudantes argumentam que a realização do protesto é necessária pois o curso passa uma imagem que não é verdadeira por conta das boas atuações no Enade. Eles disseram ainda que o mérito é dos alunos e não da instituição e dos professores. A intenção com o boicote seria a de mostrar os problemas que existem no curso.

O coordenador geral do Centro Acadêmico de Direito da Ufes, Raphael Sodré, informou que a decisão foi aprovada em assembleia pela maioria dos cerca de 100 estudantes presentes. "A Ufes tem muito a melhorar, como a questão de projetos de pesquisa e de extensão do curso que não há compromisso do corpo docente como um todo e problemas com professores que dão menos aulas que poderiam."


Raphael Sodré, coordenador geral do CA de Direito - Os estudantes argumentam que a realização do protesto é necessária pois o curso passa uma imagem que não é verdadeira por conta das boas atuações no Enade
Os estudantes do curso que forem realizar o protesto vão comparecer aos locais de aplicação do exame, no entanto, vão entregar a prova em branco com um adesivo alusivo ao boicote colado na página da frente.

O coordenador do curso de Direito da Ufes, Gilberto Fachetti, rebateu as acusações dos estudantes e disse que os professores se manifestaram contrários ao boicote. "Os professores não fizeram monção de repúdio. Se trata de um posicionamento institucional contrário ao boicote. Isso não deve ser entendido como um repúdio ou desrespeito aos alunos."

Fachetti reconheceu os problemas do curso, mas disse que não será o boicote ao Enade que vai resolvê-los. "Nós reconhecemos que o curso tem uma série de problemas. Ninguém quer camuflar os problemas, mas gostaríamos que os estudantes viessem conversar conosco sobre esses problemas, mas eles não vêm."

O coordenador ainda ressaltou que não existe o descaso com projetos de extensão e de pesquisa no curso de Direito e que existem projetos sendo realizados. No entanto, reconheceu que a quantidade deles ainda não é a ideal.